MAR

Entre cabeças, ombros, mesas e copos procuro teu rosto. Quero teu olhar fora das telas, impresso em minha retina. Quando alisas teus cabelos com mãos que dançam, te desejo. Quero te dizer isso acima da cacofonia de palavras alcoólicas que se espalham e misturam no salão. Simplesmente te desejo como um macho deseja uma fêmea. Sem hipóteses holísticas, sem razão aparente, sem causas esotéricas. Te quero como minha contrapartida energética em um universo macho-fêmea. Como um complemento que equilibra e ordena sem abafar a fúria da natureza, os desejos ou apaga do horizonte as possibilidades. Te desejo como o mar deseja as areias de uma praia selvagem quando a toca com suas ondas.

TEUS LÁBIOS

Teus lábios cresceram ante meus olhos a cada toque sensual. Teus gemidos suaves embalaram meu sonho em vigília. Com mãos trêmulas e inseguras alisei a pele de teu corpo procurando sinais, procurando o desejo que queria despertar. A cada avanço uma contenção, a cada toque um tremor e a respiração tornando-se ofegante, quente. Assim voltava a teus lábios para receber teus beijos e imaginava os livros que se espalhariam por nossa cama cobrindo parcialmente teu corpo nu. E eu me perdendo nas espirais de frases e de teus beijos numa tarde ensolarada de amor.

MAIS UM SONHO

Senti em meu peito tuas mãos que me afastavam, unha na carne, teu perfume exalando. Meu corpo vacilava como bóia em tempestade, te movias serpenteante e sensual como um sonho que se afasta. Queria penetrar-te explorando tuas profundezas, como vento morno de nordeste te afastastes alisando com tuas mãos meu braços. Acordei transpirando com a certeza de que te sonhara e não te encontraria em meu mundo diário.

PODERIAS TER SIDO MINHA

Todas as vezes que te quis e te perdi eu pensava “Poderias ter sido minha”, mas se fosses minha deixarias de ser aquela que admiro e desejo nas noites sem fim. Assim me atormento passando de rosto em rosto, de corpo em corpo te procurando em outras que também não possuirei por não querer. Sentindo meu corpo estirado em uma cama solitária me abandonarei a cada um desses beijos e abraços desconhecidos que não quero, como quem toma um bálsamo embriagante para esquecer.